Internet, Google Earth e Trilhos de montanha

Já é possível encontrar em muitos sites, como por exemplo no Panoramio imagens relativas à Arquitectura Popular presente no concelho de Arcos de Valdevez, resultado de viagens feitas na Serra por vários turistas e por pessoas naturais do Concelho.

O Google Earth é pois, uma ferramenta poderosa pois permite, ao mesmo tempo, colocar fotos relativas aos locais, observar a situação envolvente aos locais e também termos uma perspectiva aérea que permite, em muitos casos, confirmar o isolamento, relação com a Natureza e "forma dos aglomerados" rurais.

Existem ainda vários sites de Turismo e Associaçoes Locais, nomeadamente a ARDAL que fornecem informações sobre algumas das principais Aldeias, percursos/trilhos na Serra e imagens dos locais mais emblemáticos, estando "à cabeça", como é obvio a emblemática Eira de Soajo, com os seus Espigueiros (ou canastros) e o mítico Largo do Eiró, com o seu Pelourinho. Algumas casas de Turismo Rural/de Aldeia, e o Santuário de N.Sra. da Peneda... Eis os símbolos, as imagens de marca do concelho...

Mas a Arquitectura Popular presente no concelho é muito mais e, porque não dizer, alguma dela muito mais importante do que estes símbolos. Provavelmente a mais marcante é aquela que se encontra mais abandonada e esquecida/destruída/menos valorizada... É nos "Arcos Profundo", naquelas aldeias ainda mais esquecidas, nas brandas...em muitos locais das Serranias, que se encontram algumas das "preciosidades" arquitectónicas arcuenses.

É óbvio que espigueiros, igrejas e capelas, casas, ruas são importantíssimas...mas, se quisermos falar de especificidade e ancestralidade de modelos arquitectónicos, aquele que talvez mais representa essas características são os "cortelhos", com as suas coberturas abóvedadas, modelo ancestral, milenar....veja-se no Google Earth a branda da Seida, talvez das menos perceptíveis, das mais distantes, mas ao nível da especificidade arquitectónica, das mais valiosas...




Há ainda uma questão importantíssima que é necessário referir: os sistemas de cobertura.

Actualmente telha, fibrocimento, chapas zincadas são os elementos presentes na grande maioria das construções.
Há a telha canal, a telha "marselha", talvez os mais "aceitados" equanto "naturais" na Arquitectura Popular/Tradicional. Efectivamente a sua introdução na "nossa Arquitectura" não é tão antiga quanto isso...

Os modelos de cobertura realmente ancestrais são os já supracitados abovedados e as também ancestrais coberturas em colmo, essas já quase todas substituídas por telha ou zinco...ou outros materias.

Consegui encontrar uma fotografia num site de uma dessas coberturas em colmo das que ainda restam no concelho de Arcos de Valdevez...irei à procura do edifício...

Breve Apresentação

Caminhando pela serra, vamo-nos apercebendo passo a passo da apropriação que o homem fez da natureza.
Caminhos, muros, fojos, abrigos, escavações, cortes, casas de arrumos, habitações. Espigueiros, antas...monumentos pétreos.
A lógica era estruturada, a aldeia compacta, à sua volta os campos onde se praticava a agricultura de subsistência...Os montes...A Serra, verandas e inverneiras...O Homem que se sabia colocar no espaço, adaptar-se à Natureza e, sobretudo, adaptar a Natureza às suas vivências.

Pré-Históricos, Ibéros, Celtas, Castrejos, Romanos, PORTUGUESES...A história não para, mas, apesar da teórica melhoria de condições (água canalizada, estradas, electricidade, etc), a maioria das aldeias serranas veem-se a lutar pela sua subsistência...com os seus centros historicos abandonados, à sua volta crescendo alguns exemplares de construções (na sua maioria de Emigrantes), que seguem lógicas dissonantes com a qualidade e calma com que as tradicionais se adossavam umas às outras e à topografia, criando um conjunto habitacional harmoniozo. Essa agricultura de subsistência acabou, a pastorícia vai diminuindo, a gente desde há muito que também...os meios/métodos são outros...

As escolas fecharam, as casas antigas foram abandonadas na sua maioria, os campos e montes estão...bom é melhor nem falar......sem gente tudo se perdeu...não é uma crítica, é uma evidência!!!

O Importante será,urgentemente pensar num possível futuro: Turismo (?), regresso à Agricultura (agora sobre o nome de Biológica!), ou o abismo e a destruição...infelizmente quando passo em muitos destes locais, a última solução parece ser a mais provável de acontecer.

Enquanto social/económicamente é esta a situação da maioria das aldeias serranas, o ar puro da serra e a ausência de stress convidam a um passeio (esqueçamos os incêndios que destruiram parte da floresta do PNPG)...
Passando por essas mesmas aldeias e se pararmos, sairmos do carro e caminharmos um pouco pelo seu interior (essa parte labiríntica de caminhos estreitos e casas abandonadas) encontramos a presença dessa Arquitectura Popular que este blogg fala.
Casas em pedra... Na sua maioria dois pisos, Varanda, alguns elementos em madeira...é óbvio que muito disto está destruído, não é usado e o que está reconstruído e habitado está, em grande parte descaracterizado...

Há muitos anos atrás os Arquitectos saíram das Escolas e Ateliers e fizeram uma investigação/ pesquisa/inquérito a essa Arquitectura, momento do qual resultou um livro: ARQUITECTURA POPULAR EM PORTUGAL. Como é óbvio estão aí retratadas as relaçoes do homem com a Arquitectura, nas várias regiões de Portigal. Os usos, as linguagens, os métodos de construir.
Na altura a gente ainda estava lá, havia uso desses mesmos espaços.

Sendo este blogg sobre essa Arquitectura Popular no concelho de Arcos de Valdevez, irei obviamente nomear os locais e obras referenciadas nesse mesmo livro e em outras pesquisas do mesmo género que pertencem a localidades do concelho, fazendo-lhes, sempre que possível uma "revisita", de forma a verificar o seu estado/evoluçao.

Será um pouco isto este blog...Arquitectura Popular, Aldeias "Históricas"...fotos, desenhos, viagens na minha terra...

Já agora...se passar por aqui tente "provar" a cultura na sua plentiude: Natureza, Homem, Arquitectura, Música, Agricultura, "Moda", Sociologia....porque em grande parte dos casos não faz sentido pensar nestas realidades de forma independente...